"O Melhor pra Mim"
Capitulo 5
Segunda-feira, dia 2 de Novembro, 15:32, casa dos McGuys.
Guys:
Eu estava jogado no tapete felpudo do estúdio. Estávamos dando uma pausa no ensaio e os guys tinham ido lá fora fumar. Meu maço estava no meu quarto, no andar de cima, e a preguiça me impedia de subir lá e pegá-lo, então fiquei dentro do estúdio, respirando fundo pra tentar aspirar o pouco oxigênio que ainda existia na salinha. Quem disse que tocar em uma banda não é um grande esforço? Nunca tentou em um quartinho sem janelas, forrado de espuma, com três jovens de 17 anos soando e peidando.
Enquanto fazia minha sessão de ioga fedida, tentava pensar em algo ou em alguém que pudesse me ajudar, já que depois daquele chute no estômago, Lua estava definitivamente fora da jogada.
Foi então que meu celular vibrou.
- Alô? – disse, ao abrir o flip, mas me arrependi no mesmo instante em que ouvi a voz do outro lado.
- Arthur. – meu pai disse, frio como pedra.
- Rascunho do demônio. – eu disse, com a mesma voz entediada.
- Acho que eu não estou bancando essa bandinha de garagem pra você me tratar assim, Arthur Aguiar. – ele comentou, indiferente. Eu odiava o jeito como ele falava o meu nome inteiro. Me fazia sentir com 90 anos e as bolas caídas. – Mas não foi para brigar que eu te liguei.
- É bom mudar os ares às vezes… – eu disse, fazendo de tudo para irritá-lo, mesmo sabendo que isso seria humanamente impossível. A última e única vez em que vira meu pai irritado fora nas férias de verão de 2001, quando um sócio seu perdeu 1 milhão e meio em ações. Ele recebeu a notícia assim que pisamos no aeroporto. Estávamos na Suíça, e eu tinha 10 anos e uma vontade imensa de esquiar. O que, claro, não foi possível, porque nós voltamos à Inglaterra no primeiro voo que conseguimos. Depois disso, nunca mais vi nenhuma emoção se manifestar em seu rosto e voz.
- Gostaria de saber se você já se inscreveu para alguma faculdade? – ele perguntou.
Não ligou pra brigar? Ha ha ha…
- Ainda não pai, estou esperando o Titanic passar por aqui ou chover hambúrguer. – respondi, entediado. – Pai, você sabe que eu não pretendo me inscr…
- Qual foi o nosso acordo Arthur? – ele me cortou. – O Ensino Médio pra essa bandinha dar certo ou faculdade de administração pra cuidar dos negócios da família. Esse é o nosso acordo.
- Eu me lembro perfeitamente, você liga para me lembrar duas vezes por dia, pai. – eu disse, pegando uma bolinha de tênis debaixo de alguns pratos quebrados da bateria, que estavam jogados no chão, jogando-a para cima e para baixo. – Mas eu não vou precisar disso, minha banda vai dar certo.
- Basta, Arthur! – ele disse, sem se alterar. – Se daqui duas semanas eu atravessar a Europa pra chegar nessa lixeira que você chama de país e não encontrar resultados dessa brincadeira estúpida, eu juro que te coloco num internato e faço você repetir todo Ensino Médio numa escola que te ensine a escrever pelo menos!
- Eu sei escrever! – exclamei, ofendido.
Então veio o ‘clic’ e logo em seguida o ‘tu, tu, tu, tu’.
Joguei o celular em cima do sofázinho todo rasgado e furado ao meu lado e me levantei. Abri a porta do estúdio e senti aquela lufada de ar gelado e cheiroso soprar. Subi correndo para meu quarto e peguei meu Malboro Vermelho. Depois fui até a cozinha e abri a porta que dava para os fundos da casa. Chay, Pedro e Micael estavam sentados nos bancos de madeira que ficavam em cima da grama, perto da piscina. O dia estava ensolarado, e aquelas nuvens estilo esqueleto de baleia cobriam o céu. Sentei-me ao lado de Pedro, pegando seu óculos escuro e colocando-o em meu rosto. Ele não fez nenhuma objeção, só pegou o óculos de Micael, que, por sua vez, pegou o de Chay, que ficou sem.
- E aí. – eu disse, acendendo um cigarro com as mãos trêmulas. Eu estava muito nervoso, mas não pretendia descontar nos meus amigos. – O que nós vamos fazer pro seu aniversário, Micael? É esse sábado, não é?
- Não sei… – ele respondeu, jogando a bituca do cigarro acabado no quintal do vizinho. – Eu estava pensando em um churrasco de dia ou uma festa à noite… O que vocês preferem?
- Vamos fazer um churrasco de dia e uma festa à noite. – Pedro simplificou as coisas.
- Boa. – eu e Chay dissemos.
- Nós podemos tocar de dia pro pessoal da escola… Agora que temos 5 músicas prontas, é um bom momento pra mostrar o potencial do Phoenix! – Micael exclamou, apontando para o alto para mostrar a ‘força’ de que falava, só que o gesto ficou uma coisa meio ‘heil Hitler!’.
Ficamos conversando até o sol começar a se pôr. Foi quando resolvi colocar o assunto do o-que-vamos-fazer-em-relação-ao-meu-pai em pauta novamente. Aquilo já estava começando a ficar chato e constante, mas nós tínhamos que achar alguma solução.
- Meu pai me ligou de novo… – eu disse, num dos poucos momentos em que ficamos em silêncio.
- Nossa, manchete da semana! – Chay ironizou, voltando da cozinha com mais 4 latinhas de cerveja. Eu estava na sexta, mas tinha quase certeza que Micael e Pedro já haviam passado da décima.
- O que ele queria? – Micael perguntou.
- Deixa eu adivinhar! – Pedro exclamou, com a voz um pouco mole. – “Arthur, e a faculdade? Você não se esqueceu do nosso trato, esqueceu?” – ele disse, imitando com perfeição a voz de tédio do meu pai.
- Isso mesmo. – concordei, dando um gole na cerveja e fazendo uma careta. Ela estava um pouco quente, mas tomável. – Eu preciso fazer alguma coisa logo! Ele vem em duas semanas… Como diabos nós vamos conseguir 200 fãs em duas semanas?
- Mas nós já temos alguns fãs! – Chay protestou.
- Seus pais não contam, Suede. – eu disse. – Nem nossos amigos do colégio, porque eles geralmente estão bêbados demais pra ouvir as músicas.
- Bom, então… É, não temos nenhum fã… – ele suspirou. – Mas nós ainda vamos ter! O problema é que estávamos ocupados demais nos dois primeiros anos do Ensino Médio em dar festas e passar de ano, e, bom, é meio difícil fazer 13 músicas em um ano só… Mas nós já temos 5! É um ótimo começo…
- Devíamos ter começado com isso no primeiro ano… – eu disse, sentindo meu corpo ficar quente. Já estava começando a ficar bêbado.
- Agora não adianta ficar chorando pela vodka derramada. – Pedro disse. – Precisamos agir! E agir significa pedir ajuda àquela garota. Qual era o seu nome mesmo?
- Lua. – Chay ajudou.
- Eu não vou pedir ajuda a ela de novo. – eu disse, quase podendo sentir o chute no estômago de mais cedo. – Isso está fora de cogitação… Não quero perder a capacidade de ter filhos antes de ter tido um.
- Então nós estamos ferrados… – Micael suspirou, o otimismo em pessoa.
Passados alguns minutos, fui para o meu quarto, prometendo encontrar uma solução. Estava bêbado demais para admitir que eu não a encontraria, nem se ficasse no meu quarto meditando até o natal de 2099.
Na verdade, o máximo que conseguiria seria uma barba branca e o apelido de Dumbledore.
Depois de mais ou menos 5 segundos pensando, não sentia mais meus lábios e minha cabeça rodava. Decidi ligar o computador e entrar no nosso MySpace, onde uma versão porca de Depois da Chuva estava salva desde o meio do ano passado.
Zero amigos, zero plays e zero auto-estima musical.
Acabei a noite na Webcan com Pérola, minha garota fixa. Sabe aquelas meninas que você leva para os casamentos chatos da sua família só pra poder pegar em alguma coisa a não ser as mãos enrugadas de suas tias-avó e ela fica achando que vocês são namorados e que uma aliança e um compromisso pro resto da vida está quase acontecendo? Aquela era Pérola. Doce na maioria das vezes, devassa em algumas ocasiões e eternamente apaixonada por uma pessoa irremediável como eu.
Lá pelas 4 horas da manhã eu desliguei o pc. Teria que acordar em mais ou menos 3 horas, então me joguei na cama com a intenção de dormir, só que a única coisa que consegui foi uma dor de cabeça ferrada, por pensar demais em uma solução para o meu maior problema. E a única conclusão que cheguei, antes de pegar no sono, foi que eu precisava de ajuda da cria do satã, mais conhecida como Lua.
Continua..
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